Dica de livro: "Criatividade & Outros Fundamentalismos" por Pascal Gielen
Criatividade & Outros
fundamentalismos
O ensaio de Pascal Gielen Criatividade e outros Fundamentalismos chega em boa hora ao mercado editorial brasileiro. Com uma escrita fluente e informal, o autor explica que a partir do momento em que tudo e todos precisam ser criativos (a economia, as cidades, os gerentes e os políticos), a criação transforma-se em exibição. E isto tem acontecido nas redes sociais e nos reality shows, mas também no dia a dia de todos, inclusive dos artistas.
Gielen sabe do que está falando. Como diretor de pesquisa do Centro de Artes em Sociedade da Universidade de Groningen, tem organizado debates e convivido com inúmeros artistas e expoentes da filosofia política e da sociologia como Richard Sennett, Paolo Virno, Antonio Negri e Michael Hardt.
Mas embora conte com todas essas referências, este não é um livro para acadêmicos e sim para todos aqueles que sonham com um (novo) tempo desacelerado, daqueles dias em que todo excesso e toda correria parecem desimportantes. E a criação flui em ritmo próprio, assim como a vida.
Christine Greiner
"Eu irei relatar o processo de (re)invenção social da criatividade, levando você a uma jornada de oito dias. O conceito de criatividade começou a mudar nos anos 1970. De um ponto de vista social, contudo, é especialmente interessante a transformação que vem ganhando espaço desde o final dos anos 1980 com o crescimento vertiginoso da economia cultural e das indústrias criativas e, portanto, o foco do livro será sobre as duas últimas décadas. Mas nós saltaremos para trás e para frente ao longo da história e também trataremos de períodos anteriores a 1980. Por exemplo, seria grosseiro dizer qualquer coisa sobre a indústria criativa sem referência em algum ponto à noção de ‘indústria cultural’, introduzida por Adorno e Horkheimer nos anos 1940. Por outro lado, não pretendo apresentar aqui uma gênese histórica cuidadosa, tampouco uma análise etimológica ou semântica. Como mencionei anteriormente, o foco será a narrativa social.
Ao contar esta história, poucas ideias da sociologia clássica serão adotadas, embora resultados de pesquisas científicas – incluindo a minha – figurem ocasionalmente em segundo plano. No lugar dessas questões, e de acordo com a forma de um ensaio, eu usarei metáforas da literatura e, principalmente, da filosofia, para interpretar e entender nossa realidade social. Dessa forma, debruçarei sobre poucos autores, usando alguns e talvez abusando de outros, para construir meu próprio argumento. Embora o número de autores seja elevado para este propósito, há na verdade apenas três livros que definem as cores primárias desta história. Dois deles são explícitos, mas as ideias do terceiro livro são como um fio condutor, um pano de fundo. Contudo, como é frequentemente o caso das figuras por trás das cenas, este último deve ser o ator mais poderoso. De qualquer forma, em uma visão retrospectiva, o livro número três definiu a estrutura geral deste ensaio."
Pascal Gielen (1970) é diretor do Centro de Artes em Sociedade da Universidade de Groningen (Holanda), onde atua como professor de sociologia da arte e de política cultural . Editor da série de livros Artes na Sociedade, Gielen já publicou obras sobre arte contemporânea, herança cultural e políticas culturais.